A atividade física regular é benéfica em vários sentidos, isto já é senso comum, entretanto cada vez mais se descobrem novos benefícios. Um deles, que ainda não é muito discutido e utilizado, é o exercício físico como tratamento para distúrbios do sono. O artigo que se segue da Revista Brasileira de Medicina do Esporte aborda esta relação, a importância da quantidade adequada de exercício e também as hipóteses que são levantados para explicar uma melhoria da qualidade de sono a partir da atividade física.
O exercício físico e os aspectos psicobiológicos
O Sono e o Execício Físico
Cerca de 30% da população adulta nos EUA e de 20 a 40% da população mundial são acometidos por problemas relacionados ao sono, piorando a qualidade de vida, aumentando o risco de acidentes e diminuindo a produtividade no trabalho, entre outras conseqüências.
Embora a eficácia do exercício físico sobre o sono tenha sido demonstrada e aceita pela American Sleep Disorders Association como uma intervenção não-farmacológica para a melhoria do sono, poucos profissionais da área de saúde têm recomendado e prescrito o exercício físico com este intuito.
Um recente levantamento epidemiológico realizado na cidade de São Paulo demonstrou que entre 27,1 e 28,9% de pessoas fisicamente ativas e 72,9 e 71,1% entre os sedentários se queixavam de insônia e sonolência excessiva, respectivamente.
Mas por que o exercício físico pode promover a melhora do padrão de sono? Alguns estudos realizados têm procurado responder a esta questão apoiando-se inicialmente em três hipóteses:
A primeira hipótese, conhecida como termorregulatória, afirma que o aumento da temperatura corporal, como conseqüência do exercício físico, facilitaria o disparo do início do sono, graças à ativação dos mecanismos de dissipação do calor e de indução do sono, processos estes controlados pelo hipotálamo.
A segunda hipótese, conhecida como conservação de energia, descreve que o aumento do gasto energético promovido pelo exercício durante a vigília aumentaria a necessidade de sono a fim de alcançar um balanço energético positivo, restabelecendo uma condição adequada para um novo ciclo de vigília.
A terceira hipótese, restauradora ou compensatória, da mesma forma que a anterior, relata que a alta atividade catabólica durante a vigília reduz as reservas energéticas, aumentando a necessidade de sono, favorecendo a atividade anabólica.
Quanto às variáveis relacionadas ao exercício físico, a intensidade e o volume são extremamente importantes, pois quando a sobrecarga é aumentada até um nível ideal, existe uma melhor resposta na qualidade do sono. Por outro lado, quando a sobrecarga imposta pelo exercício é demasiadamente alta, ocorre uma influência negativa direta sobre a qualidade do sono. Portanto, a análise do comportamento do sono pode trazer informações bastante úteis na preparação do desportista.
Segundo O'Connor e Youngstedt, o sono de pessoas ativas é melhor que o de pessoas inativas, com a hipótese de que um sono melhorado proporciona menos cansaço durante o dia seguinte e mais disposição para a prática de atividade física. Vuori et al. afirmam que o exercício físico melhora o sono da população em geral, principalmente de indivíduos sedentários.
O padrão do sono de ondas lentas (SOL) ou sono profundo pode ser alterado dependendo da intensidade e da duração do exercício e da temperatura corporal. Para Montgomery et al. há um aumento deste episódio de sono nos cinco experimentos realizados pelos autores, nos quais utilizaram variações do tipo de exercício físico quanto à intensidade, duração e horário da prática dos exercícios.
Dessa maneira, acredita-se que o SOL, principalmente o estágio 4, é extremamente importante para a reparação fisiológica e de energia. A alteração positiva nesse estágio de sono ocorre em função do aumento do gasto energético provocado pelo exercício durante a vigília alerta, o que propicia um sono mais profundo e restaurador fisicamente.
Além dessas alterações, alguns estudos verificaram que o exercício pode aumentar a latência de sono REM e/ou diminuir o tempo desse estágio de sono, o que retrataria um índice de estresse induzido pelo exercício. Em relação ao tempo total de sono, admite-se que exercícios agudos, em que não há adaptação à sua duração, trazem aumento do episódio total de sono, assim como no exercício físico crônico, indivíduos treinados apresentam maior tempo de sono em comparação com indivíduos sedentários, mesmo sem treinarem, o que reforça a necessidade de mais sono para restabelecer a homeostase perturbada pelo exercício físico.
O artigo comenta e é importante salientar a influência da quantidade de exercício, que necessita ser adequada para um sono de boa qualidade, se houverem excessos os resultados podem ser contrários podendo até mesmo causar insônia. Apesar de não se ter uma resposta exata para o porquê da atividade física melhorar o sono, pesquisas mostram que em geral as pessoas ativas têm melhor qualidade de sono do que as sedentárias, pra tentar explicar isto existem hipóteses que se baseiam no aumento da temperatura corporal e no gasto energético ocasinado pelas atividades catabólicas, o que levaria a um aumento da necessidade de sono.
Através deste fragmento do artigo podemos ver que a atividade física se mostra cada vez mais importante em várias áreas tanto para a cura, quanto para a prevenção de enfermidades.No caso específico do sono os benefícios trazem uma melhoria fundamental para a qualidade de vida fornecendo equilíbrio e uma melhor recuperação física e mental ao corpo.
Bibliografia:
MELLO, Marco Túlio de; BOSCOLO, Rita Aurélia; ESTEVES, Andrea Maculano and TUFIK, Sergio. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Rev Bras Med Esporte [online]. 2005, vol.11, n.3, pp. 203-207. ISSN 1517-8692.
Imagem:http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/e_possivel_recuperar_horas_de_sono_.html